Artigos

Da falsa abolição ao escravismo contemporâneo

13 de Maio de 2019 - Luiz Carlos Suíca
[Da falsa abolição ao escravismo contemporâneo]

Por Luiz Carlos Suíca*

Um engodo para tentar manter no cabresto o povo negro. Assim considero o dia 13 de maio – tido como um marco da abolição da escravatura. Isso porque seria muito difícil associar diretamente a questão abolicionista a um determinado partido político. De fato, embora fosse uma reivindicação eminentemente liberal, as principais leis abolicionistas foram aprovadas por gabinetes liderados pelo Partido Conservador. Sendo este partido menos significante sobre a questão.

Neste contexto, poderíamos traçar uma batalha parlamentar que se dava entre três grupos principais: os escravistas, que defendiam a manutenção da escravidão; os emancipacionistas, que buscavam a mera libertação jurídica dos escravos (e foram o grupo vitorioso); e os abolicionistas, que apoiavam não apenas a libertação, mas a concessão de direitos aos ex-escravos, com sua plena inserção na sociedade.

Assim a tal abolição foi gerada gradativamente deixando seus efeitos devastadores para a população negra. Temendo por uma revolução, assim como foi a do Haiti, a classe dominante logo agiu com algumas ‘manobras’ no intuito do extermínio do povo negro. Dentre essas armadilhas foi a Guerra do Paraguai, que dizimou grande parte dos negros. A Lei do Ventre Livre, que foi festejada como uma conquista, mas viria a ser um fator de desagregação da família negra e daria origem aos primeiros meninos de rua.

A Lei do Sexagenário, que não seria diferente da primeira sob o olhar de um falso humanismo, que premiava com a liberdade os escravos idosos e doentes, permitia aos perversos escravocratas se beneficiarem do ônus da manutenção de escravos improdutivos pela velhice e criaria uma multidão de mendigos negros que, de repente, se viram livres do trabalho escravo. Mas sem qualquer meio de se sustentar. Esta nos remete a atual reforma da previdência - que deixará milhões de idosos em situação de risco.

E a Lei Áurea, que formalizaria a abolição, quando a proporção de escravos já havia reduzido substantivamente, apenas 5% da população se mantinha na condição escrava. E essa ‘libertação’ deveria ser vista como um ato de generosidade e favorecesse a obediência.

Mas a liberdade do povo negro não se dá por meio de uma lei assinada por uma mulher branca, a classe que detinha o poder do Império. A história é marcada, e ao mesmo tempo esquecida - por não ser ensinada - pelo movimento abolicionista os quais fizeram parte grandes nomes que lutaram, com resistência, a exemplo de Joaquim Nabuco, André Rebouças, José do Patrocínio, Luís Gama e Tobias Barreto.

Portanto, o 13 de maio não é uma data representativa para o movimento negro por não nos colocar no lugar de protagonismo da nossa luta e resistência pela situação de escravidão e consequentemente o racismo em que nossos ancestrais foram expostos. Carregamos a marca desse processo cruel e devastador para o povo negro. Todos os dias um negro é morto, o negro em situação vulnerável, o negro sem oportunidade igual a todos. Vivemos o racismo institucional e alcançamos poucos lugares de protagonismo.

*Luiz Carlos Suíca é historiador e vereador do PT de Salvador

[Artigo] – 10.05.2019

Comentários

Outras Notícias

[Novo shopping em Camaçari terá SAC, supermercado e mais de 80 operações]
Bahia

Novo shopping em Camaçari terá SAC, supermercado e mais de 80 operações

31 de Julho de 2025

Foto: Reprodução / Redes Sociais

[Declaração de ex-jogador do Fluminense sobre política no futebol gera debate nas redes ]
Esportes

Declaração de ex-jogador do Fluminense sobre política no futebol gera debate nas redes

31 de Julho de 2025

Foto: Reprodução / Redes Sociais

[Jovem que desviou R$ 5,6 mil do avô para jogo virtual inicia tratamento psicológico]
Bahia

Jovem que desviou R$ 5,6 mil do avô para jogo virtual inicia tratamento psicológico

31 de Julho de 2025

Foto: Reprodução / Redes Sociais

[Produtos de beleza com menção à cannabis são retirados do mercado brasileiro]
Saúde

Produtos de beleza com menção à cannabis são retirados do mercado brasileiro

31 de Julho de 2025

Foto: Divulgação / Hemp Vegan

[Servidores do Hospital das Clínicas denunciam flanelinhas e falta de vagas no Canela ]
Bahia

Servidores do Hospital das Clínicas denunciam flanelinhas e falta de vagas no Canela

30 de Julho de 2025

Foto: Arquivo Pessoal

[Fibromialgia será considerada deficiência no Brasil a partir de 2026 ]
Saúde

Fibromialgia será considerada deficiência no Brasil a partir de 2026

30 de Julho de 2025

Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil